Antônio, Santo casamenteiro ou zombeteiro?

Treze de junho, noite fria, e fui atravessada por lembranças doces, coloridas, sonoras e aromáticas; as festas juninas da minha adolescência.

Naquela época frequentava vários “arrasta-pés” , com direito a sanfoneiros, quadrilhas, fogueiras, fogos de artifício, canjica, quentão, pés-de-moleque, pipocas, maçãs do amor, muitos doces e salgados.

Adorava me vestir de caipira, com vestido de chita, cheio de babados, fazer tranças nos cabelos e usar chapéu de palha enfeitado com fitas e flores.

A noite de Santo Antônio, o santo dito casamenteiro, mas que morreu solteiro, para mim era especial, pois me divertia com as simpatias que as mulheres faziam para garantir um amor para a vida inteira...

Aquelas que já estavam noivas, mas com pressa de se casarem, amarravam um fio de seus cabelos ao do amado e depois colocavam os fios entrelaçados aos pés do Santo, para que ele resolvesse o problema e facilitasse o casamento;

Outras, mais afobadas e se sentindo encalhadas, queriam arrumar um namorado, de qualquer idade e aparência, e para isso faziam as maiores torturas com a imagem do Santo. Roubavam e escondiam o Menino Jesus que ele carregava, colocavam-no de cabeça para baixo dentro do caldo de feijão fervendo, dentro de um copo de cachaça ou até dentro do congelador, entre outras maldades.

Eu, além de não acreditar em nada daquilo, ainda duvidava da capacidade de Santo Antônio de ser casamenteiro e arrumar companheiro para quem quer que fosse.

Mas daquela vez não quis ficar de fora da brincadeira e resolvi arriscar um pedido. Afinal não me custava nada solicitar ajuda para encontrar aquele homem que havia imaginado e com quem sonhava todas as noites. Então peguei a imagem do santo, embrulhei num papel, onde escrevi minha prece:

meu Santo Antônio querido
não preciso de um marido,
nem de alguém que me ame
só quero um namorado
que me aconchegue,
que me cubra, me abrace
que seja meu travesseiro
daqueles de corpo inteiro
pois isso já me basta!
e se for um moreno
com cara de safado
de fala mansa, arrastada
pele cor de jambo, tatuada
vou ficar deveras encantada
e pra sempre agradecida
por favor meu Santo
atenda ao meu pedido
Amém!

Depois, enquanto declamava em tom descrente e debochado a minha oração, coloquei tudo dentro de um pote de melado, hermeticamente fechado, pois sem ter como escapar, Santo Antônio ficaria enjoado com tanta doçura e, para se livrar, me arrumaria o namorado.

O tempo passou e até já havia me esquecido do tal pedido, mas o Santo não se esqueceu, nem do milagre solicitado, nem da minha heresia e deboche, nem da minha descrença em seus dotes, e me mandou a encomenda, mas tão enrolada, tão bem embrulhada, que até hoje não consegui abrir o pacote!


Por: Layla Lauar